Perdi-me.
- O Autor
- 19 de set. de 2018
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Perdi-me.
Perdi-me nesse labirinto que é a vida, esquerda ou direita, parar ou morrer, mas parar é morrer e se a direito não dá voltamos para trás e recomeçamos; nessa busca pelo que fui, o relógio parou, mas o despertador não se cansa, avança uma hora, atrasa os segundos, não percas o ritmo, tic tac tic tac, é mais uma página de calendário que se rasga, tic tac tic tac, o coração acelera, nessa roda gigante de sonhos frenéticos. Há noites em que nem todas as almofadas do mundo chegariam para me fazer dormir. Viver é desconfortável e se algum dia caíres no conforto dos dias, sabe que estás morto. Perdi-me e há sonhos que não vieram comigo, atrasaram-se, adormecidos, entorpecidos, esqueci-me deles no fundo do armário. Sai do armário! Algum dia vais ter de sair do armário! Sonhar é tão difícil, principalmente quando está sol e te deixas cegar pelo que não és, a nostalgia de um passado que ficou ao abandono, de sentimentos que são memórias; preserva bem os sentimentos, um dia não serão mais do que memórias e as memórias, essas pertencem à mente e se tentares com que desçam ficam-te entaladas na garganta. Conheço gente que morreu com palavras entaladas na garganta, memórias que não se apagaram materializadas em quereres que nunca se realizaram. Mentes brilhantes, pertencentes a corações vazios, queriam falar, mas esqueceram-se de viver. Só quem vive, sente e só quem sente pode apregoar aos quatro ventos o que lhe vai na alma, o que lhe atravessa a mente sem magoar o sentimento.
Perdi-me na imensidão do vazio, inspirar, expirar, encher os pulmões de ar, sentir a brisa, ocupar cada lugar vago com a certeza de que seguir multidões desoladas não é o melhor remédio. Já dizia o outro que rir é o melhor remédio e cá eu prefiro rir-me da solidão, de mim, do vazio do que rir-me de uma mão cheia de nada. E dois pássaros no ar. Viva a liberdade! Doce liberdade, de quem nada tem, de quem tudo quer, de quem tanto luta e mesmo que tudo desabe não há nada que nos trave, não há vazio que preencha quem tudo quer.
Perdi-me.
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