Navegar

O teu coração é um barco, num oceano de memórias e sentimentos.

E como um barco, tem atravessado águas muito turbulentas e Invernos tenebrosos. Tem sofrido com as intempéries, tem sofrido muitos sustos, tem-se sentido perdido muitas vezes e tem precisado de remendos, muitos remendos para que não seja mais um barquinho afundado a meio da viagem e para que não o vejas naufragar.

Mas também se tem passeado por águas calmas e límpidas, debaixo do céu azul, acompanhado por gaivotas barulhentas que o levam a bom porto. Também tem tido dias de sol em que o mar o leva mais perto do destino, em que o calor o recebe de braços abertos. Em que a rota faz sentido. Mesmo sem bússolas, a rota faz sentido.

O teu coração é um barco e foi feito para viajar.

Então deixa o inverno passar e leva-o a percorrer águas que tu não conheces ainda. Navega sem rumo, é simples assim, mas sempre em frente. Deixa que o sol se ponha e faça o seu espetáculo e mergulha nesse oceano imenso de fogo. Segue a estrela do norte e encontra o teu porto de abrigo.

Espera pela manhã seguinte e recebe o beijo quente de luz.

Vai navegando com o teu coração porque só tu podes completá-lo.

E acredita nele, acredita na imponência desse coração que já navegou tanto, que já sentiu tantas vezes o sabor doce e amargo do sal e que ainda tem tanta ansia de viajem. Não é que seja sempre fácil, mas pode ser recompensador, tão recompensador.

E há essa nova praia de areia quente, beijada pela calma do mar salgado, pela brisa suave da maré, pelos raios de sol da manhã. Algures há essa praia, esse pedaço de paraíso que tanto procuraste.

Não desistas de o procurar, não deixes de ser navegante.

Não te preocupes com o tempo da chegada, não te preocupes se não seguires as mesmas rotas que os outros barcos. Livra-te das convenções sociais. Tu podes navegar sozinho e ser tudo o que queres ser. E encontrar outros navegantes como tu, que te acalentam e te ajudam a descobrir o caminho.

E é aí que reside a magia da viagem!

E quando encontrares essa praia tu saberás que chegaste a bom porto e esse coração navegante, esse barco que vive dentro de ti ancorará.

Deixa-te ancorar.