Equilíbrio
- O Autor
- 14 de jul. de 2018
- 2 min de leitura
Digo-vos hoje, e perdoem-me as mais atinadas, as mais acertadas, as que nunca perdem o tino, as que nunca sentem vertigem, as que nunca se desequilibram na corda bamba, mas o desequilíbrio é fundamental.
É isso mesmo, o desequilíbrio é fundamental.
As subidas vertiginosas, os mergulhos para o abismo, os caminhos tempestuosos e as quedas revitalizantes.
Olha, queremos mulheres a beira de um ataque de nervos!
Mulheres que cantem bem alto e que dancem sozinhas no meio da sala, ou que girem na frente dos convidados mesmo sem ponta de graciosidade. Queremos mulheres que desfilem descalças e em cuecas pela casa com a t-shirt velha dos Rolling Stones.
É, queremos clichés!
Mas queremos clichés vivos, de carne e osso, com aura e sentimento.
E quando os convidados já estiverem a mais, o que faz falta nesta vida de aparências é mulheres que ousem o típico “amor vamos para o quarto que os convidados estão cansados” cheias de subtileza e tão descaradas.
Queremos mulheres que gritem as inquietações e as vontades, que enlouqueçam, que tremam e partam a loiça até a voz embargar se assim o entenderem! Mulheres de fato-de-treino, de ténis, de cerveja na mão esquerda e que fiquem completamente fodidas porque o bolo não cresceu, porque o cabelo rebelde logo hoje resolveu parecer uma tigela cheia de óleo e porque a barriga inchou com o assado do almoço de domingo. E queremos mulheres fortes, que nem pedra, que sabem o que querem, tiranas, poderosas, destemidas para logo a seguir chorarem com um episódio de “Anatomia de Grey”.
Que lá no fundo nós gostamos é de dramas! Todos! Todas!
E saltos altos inesperados.
De mulheres que tiram qualquer um do sério.
Não queremos mulheres sem curvas, com bases e maquilhagem ao milímetro dia após dia, com o modelito acabado de sair da manequim que está na loja da rua direita.
A vida estática, esguia, arrumada é aborrecida.
Queremos muitas unhas quebradas, gritos assustados com insectos, e pára-choques amassados da pressa, os abraços lavados em lágrimas, as saudades reprimidas, essa fragilidade tão feminina e a paixão.
Essa maldita paixão.
E quanto mais loucas, mais apaixonantes!
Que deixam o próprio mundo desnorteado, que conseguem fazer da vida, dá doença, da felicidade gato e sapato e que vão sair mil vezes da rotina só para entrar novamente, alavancar tudo, destruir tudo, impulsionar a vida e fazer-nos desejá-las e odiá-las mil vezes numa só vida.
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