As intermitências do ser

De forma geral, crescemos todos com ideias pré feitas e sujeitos a comparações. De forma profunda isso molda mais das nossas decisões e personalidades do que aquilo que podemos imaginar. Baixo, alto, gordo, magro, moreno, ruivo, inteligente, simplório... Gostos musicais, cinematográficos, literários. Com o que te ocupas quando tens tempo livre? A sério? Futebol, basquetebol, dança, ginástica... Comes bem ou deixas meio prato com legumes? Preto ou branco? Azul ou verde... Matemática, português. A sério? Novamente, a sério? Converse ou Adidas, como assim não tens calçado de marcas conhecidas? Caracóis ou cabelo liso e que banda é essa mesmo? Li na revista. Não leio revistas, só livros. Mas eu não sei como perdes tanto tempo a ler. Só ganho. Facebook ou Instagram? Qual dos filtros? Retoca com o VSCO. Tanta pressão que impomos uns aos outros, quando nenhum de nós gosta de ser pressionado. Escolhemos rotular, rotular e rotular. Temos medo do que é diferente e por isso escolhemos apontar o dedo, é tão mais fácil do que lidar com a diferença. E a pressão é tanta, para obedecermos à "norma". Que curso vais tirar? Já terminaste o curso? Ela já. Trabalhas? Mas gostas disso que fazes? E ai de ti que digas que não. Que não gostas, que não terminaste, que não queres. Ai de ti que te atrevas a dizer que não. Como assim não? A felicidade só está no sim. Se os outros fazem, têm, querem é porque é bom. Ou será que não? Não digas disparates, diz antes sim! Sim quero! Sim, aceito. Pronto já casei, 3 filhos, mais 10 kgs, mas agora tenho menos 15 kgs. Parabéns! Paguei as contas e fui de férias. Para o Algarve. E para o ano é para o Alentejo. Está na moda. Sabes o que não está na moda? Ser feliz. Não digas disparates! Ser feliz é ter sucesso! Casa, carro, filhos, o cão. Mas não o deixes ir para o sofá que deixa pelos. Que dirão as visitas? Que dirão? Que dirão as visitas, que dirão os vizinhos, a família, os amigos, os pseudo (!) amigos, os colegas... Que dirão? Se tiveres a coragem de pensar por ti mesmo, se acreditares que o teu corpo é válido e lindo, se acreditares que os teus gostos musicais são aceitáveis ainda que não comerciais, se acreditares que a tua vocação te pode trazer maior felicidade que outro curso qualquer. Que dirão quando tiveres brilho próprio e fores tão feliz que eles não consigam compreender como se é tão feliz? Porque as pessoas têm tanto medo do que não comprendem. Mas sabes que mais? Quando fores feliz assim eles podem dizer o que quiserem que já não vais querer saber, e é esse o poder da felicidade e da aceitação do que somos, do que somos, não do que querem que sejamos.