Acordar.
- O Autor
- 30 de mai. de 2018
- 2 min de leitura

Acordo, os teus pés entrelaçados nos meus, a tua mão a afirmar-se na minha cintura, o teu bafo lento contra o meu ombro. O quarto com resquícios da humidade quente deixada por dois corpos que se abandonam ao prazer. Contemplo os raios de sol que já invadem a janela e vejo-te, melhor do que ninguém. A barba por desfazer e um ar calmo de quem andou perdido e finalmente chega ao destino. Esquivo-me do teu corpo, abro a porta da varanda e a brisa marítima invade-me as narinas. É o mesmo cheiro que trazes contigo no final de cada dia de praia, quando pousas o saco à entrada da porta e te deixas ser feliz comigo. O teu corpo salgado, contra o meu e já nós os dois contra o chão que se enche de areias cristalinas. De todos os cheiros do mundo é este cheiro a sal que mais me cativa. O de dois corpos salgados que se querem. Olho para ti e sinto-te o cheiro. E as memórias de ti no chão gelado e nas areias que ficam da noite anterior. Esperei-te. Como quem espera que o destino lhe bata à porta, como quem espera uma vida inteira para ser feliz, como quem espera pelo fim… Para começar. E tu chegaste para que pudéssemos ser felizes. A vida a acontecer onde a deixámos. E começamos. Carros, pessoas, azáfamas, hábitos, multidões, ruas vazias. E nós a sermos felizes. Eu, tu, uma cabana na praia, dois corpos salgados de desejo e as areias de 365 dias de felicidade. E se viver não é nada disto, então não quero viver. Que a vida é feita dos momentos em que a desafias, dos momentos em que te deixas evadir dela e ser feliz. És a minha maneira preferida de acordar.
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